Don't you realize? Legalize !
A ausência é uma das melhores maneiras de levar a mente humana a pensar nos assuntos do quotidiano. E, tendo em conta aquilo que é mostrado diáriamente nas notícias, parece-me que este país pensa pouco em assuntos-tabú. Um exemplo? Born Diep. Assim se chamada um pequeno navio que, há umas semanas, esteve ancorado ao largo da costa portuguesa, mais específicamente ao largo da Figueira da Foz, sem nunca invadir, claro, as doze milhas de costa portuguesa, à qual o acesso não foi autorizado pelo governo português, particularmente o ministroda Defesa e dos Assuntos do Mar (mais coisa, menos coisa), Paulo Portas. E porque aconteceu? É simples: este barco partiu da Holanda, em Agosto, e pertence a uma associação conhecida a nível mundial denominada Women on Waves, uma associação que defende o direito ao aborto (o mesmo assunto sobre o qual fizeram um referendo em Portugal, há uns tempos, mas no qual houve uma adesão de 30%..).
Ou seja: este navio trazia consigo todas as condições para poder ser praticado este acto, a quem precisasse/quisesse fazê-lo, por motivos de várias ordens. Inclusive foram disponibilizadas várias linhas telefónicas e também apoio e contactos através da internet, para que se pudesse chegar a bom porto com as intenções das interessadas (passem a redundância). Mas eis que, ao chegar a este maravilhoso país à beira-mar plantado e com a inteligência guardada na algibeira, lhes foi barrada a entrada na costa portuguesa (parece conversa de discoteca, mas não o é: o Paulo Portas não tem perfil de porteiro do Kremlin..). Porquê? Simples: o aborto em Portugal, depois das seis semanas, é considerado ilegal, logo proíbido de ser praticado. E que acontece então, em geral? Bem, quem tem necessidade de o fazer, quem tem dinheiro para tal, desloca-se confortávelmente ao estrangeiro, hospedam-se em hóteis que, no mínimo, têm quatro estrelas (****) e depois do pequeno-almoço, deslocam-se ao fatídico local e terminam a vida de alguém que não o chegou a ser. E quem não pode? Curioso. Quem não tem dinheiro para o fazer, procura as alternativas locais e nacionais, como em anúncios de massa milanesa. Nem sempre o nacional é bom. Isto porque, como podem constatar nos local media, muitas são as vezes em que algo corre mal na improvisada mesa de operações e daí advêm consequências de todo prejudiciais para essa mulher e para a sua prol. P.ex: não poder ter mais filhos porque a distinta senhora que praticou a "operação" tinha conhecimentos de medicina tão grandes como o meu mecânico, e pensava que estava a mexer em bobines e módulos em vez do útero de uma mulher, na vida de um feto, de uma possível-pessoa. Isto entristece-me. Perdoem-me os durões. É então que a dita mulher fica com dois resultados em vez de um: perde o filho, possivelmente já tendo mudado de ideias em relação a essa vida, e por vezes perde a sua saúde (o exemplo referido é apenas uma das inúmeras hipoteses que há). Tudo isto porque, em Portugal, dado ser ilegal o aborto, é necessário recorrer a quem o faça à margem da lei e nem sempre com as melhores condições e conhecimentos. Logo: sujeitam-se porque é preciso.. porque não podem ter mais filhos.. Mas atenção: não estou a generalizar ! É certo que existem casos em que o aborto é resultado de mero apetite e capricho, mas também os há em que é estrictamente necessário. E é nesses casos que estas consequências doem mais. Há quem não tenha dinheiro para criar mais um filho; há quem não tenha inteligência para criar um filho; há quem não tenha alma para criar um filho; há grandes-filhos-da-puta quem nem sequer mereciam viver, quanto mais criar um filho (perdoem o palavreado, mas nada define melhor este tipo de "gente".) e há o contrário: quem pode ter vários filhos e dar boas condições a todos; há quem tenha paciência e educação e devoção para criar um filho; há quem seja bom pai e bom educador para um filho, mas que simplesmente não os quer e não precisa dele. E já dizia o ditado: corta-se o mal pela raíz.. Nesse caso, qual será então o cerne da questão? Simples: o aborto é proíbido e é feito na mesma. Todos o sabemos, praticamente todos negam sabê-lo e preferem fechar os olhos: é tabú - dizem, com cara assustada. Tabú ou sem bú, importa discutir isto e acabar com a insegurança que ronda os abortos em Portugal porque eles são feitos na mesma, quer queiram quer não. O problema está em serem bem feitos ou não, com condições médicas para tal dependentes, obviamente, da sua legalidade.
Em anexo, um excerto da referência a esta situação no site das Women on Waves:
Borndiep heads back home
"The MS Borndiep left for the Netherlands on in the morning of Thursday the 9th of September. Being out in international waters for more than two weeks and not being able to sail into Portuguese territorial waters was very disappointing for Women on Waves, but fortunately Women on Waves has found an alternative way to help women with the Misoprostol protocol and they were able to reopen the discussion on legal abortion in Portugal."
in http://www.womenonwaves.org/
Fórum para discussão sobre este tema: http://pub30.bravenet.com/forum/2569760274